Hipercorreção e mobilização de significados sociais: percepções sobre o uso do relativo qual em um estudo open-guise
Nome: ANDRÉ POLTRONIERI SANTOS
Data de publicação: 28/03/2025
Banca:
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Papel |
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GESIENY LAURETT NEVES DAMASCENO | Examinador Interno |
LEILA MARIA TESCH | Presidente |
LIVIA OUSHIRO | Examinador Externo |
RAQUEL GOMES CHAVES | Examinador Interno |
RONALD BELINE MENDES | Examinador Externo |
Resumo: Esta tese objetiva investigar as percepções de ouvintes/leitores sobre usos
hipercorrigidos do relativo qual a partir de um teste do tipo open-guise (Soukup,
2013; 2016). O interesse em analisar esses usos se justifica pelo fato de que o
relativo qual é um pronome pouco utilizado na fala e na escrita, mas exibe
frequência relativamente alta de hipercorreções, como demonstram Lorevice
(2012) e Silva (2021). A principal hipótese deste trabalho é que as percepções
sobre as hipercorreções seriam condicionadas a depender do tipo de relativa
(cortadora ou com hipercorreção do qual), bem como da área de formação dos
participantes. O protocolo do experimento principal desta tese consistiu em
apresentar dois pares de estímulos, produzidos pelo mesmo falante, que se
diferenciavam apenas quanto à presença do relativo que, em uma relativa
cortadora, ou de uma hipercorreção do relativo qual. Foram utilizadas as vozes
de dois falantes, mas cada participante ouviu todos os estímulos na voz de
apenas um deles. Além dos estímulos auditivos, cada participante avaliou um
estímulo escrito que apresentava i) duas relativas cortadoras ou ii) duas
hipercorreções do qual. Os resultados do experimento demonstram que,
mesmo cientes de que estavam avaliando as vozes de uma mesma pessoa, e
de que os áudios eram simulações, isto é, não eram amostras de fala
espontânea, os participantes tiveram percepções distintas sobre os estímulos
com relativa cortadora e com hipercorreção do qual. Essas percepções
também foram condicionadas, em alguma medida, por variáveis sociais, mas
os fatores estruturais se mostraram mais fortes, sobretudo o fato de os
participantes terem ouvido o segundo par de estímulos, que apresentava um
contraste entre as variantes de forma similar ao primeiro par, sugerindo haver
atuação de um efeito de priming (Greenbaum, 1976; Teixeira, 2016). De forma
geral, a análise dos modelos de regressão e de diversos testes-t pareados
revelou que os participantes tiveram percepções de mais status e pedantismo
sobre os estímulos com hipercorreção do qual. Observamos, contudo, que a
área de formação dos participantes foi um fator importante para as percepções
de admiração: enquanto o grupo de Letras e áreas afins teve percepções de
menos admiração sobre o estímulo com hipercorreção do qual no segundo par,
os participantes de outras áreas não diferenciaram tais estímulos quanto a
essa característica. Quanto aos estímulos escritos, a despeito de semelhanças
entre os dois grupos de participantes, apenas os participantes de Letras e
áreas afins tiveram percepções de que as hipercorreções do qual são mais
pedantes. Em suma, os resultados do experimento nos permitem argumentar
que o uso de hipercorreções do relativo qual mobilizam significados sociais.