A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DO FEMINICÍDIO EM NOTÍCIAS JORNALÍSTICAS: UMA ANÁLISE SISTÊMICO-FUNCIONAL
Nome: ALFREDO EVANGELISTA DOS SANTOS NETO
Data de publicação: 11/04/2025
Banca:
Nome |
Papel |
|---|---|
| ALEX CALDAS SIMOES | Examinador Interno |
| GABRIELA DO COUTO BARONI | Examinador Interno |
| GESIENY LAURETT NEVES DAMASCENO | Presidente |
| MARCOS ROBERTO MACHADO | Examinador Externo |
| VIOLETA VIRGINIA RODRIGUES | Examinador Externo |
Resumo: A Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) destaca-se por sua abordagem que considera a língua como um conjunto de sistemas interligados, em que as estruturas gramaticais são analisadas em relação ao significado e às funções que desempenham nos textos. Fundamentado nessa perspectiva, este estudo investiga como o feminicídio é construído discursivamente em notícias veiculadas em portais de notícias online, a partir de uma abordagem funcionalista centrada na LSF. A análise ancora-se nos pressupostos do Funcionalismo Linguístico (Givón, 1984, 1990, 1995, 2001) e da LSF, conforme Halliday (1994), Halliday e Matthiessen (2004, 2014), Thompson (2014), Martin e White (2005), Martin e Rose (2008) e Hasan (1985), além da proposta de descrição dos Processos Materiais elaborada por Damasceno (2016). O objetivo geral consiste em examinar como os
componentes das metafunções textual, interpessoal e ideacional são codificados nas notícias de feminicídio, bem como compreender os significados que emergem dessas codificações. A pesquisa propõe, especificamente, quatro frentes de análise: (i) identificar Tema, Rema e seus efeitos de sentido (metafunção textual); (ii) observar as relações interpessoais entre os sujeitos
oracionais (metafunção interpessoal); (iii) analisar os Processos, Participantes e Circunstâncias envolvidos nas ações (metafunção ideacional); e (iv) mapear e comparar padrões discursivos por meio do uso de Mapas Auto-Organizáveis (Rede SOM), técnica
estatística baseada em redes neurais não supervisionadas. A abordagem metodológica opera com treze parâmetros analíticos que articulam propriedades pragmáticas e discursivas vinculadas às três metafunções. Dentre esses parâmetros, destacam-se: Representação Semântica do Tema (RSE), vinculada à textual; Estatuto Informacional do responsável pelo processo (EIS), à interpessoal; e Posição das Circunstâncias (PCI), à ideacional. A pesquisa também incorpora aspectos extralinguísticos ao comparar os padrões identificados nas cinco regiões brasileiras (Centro-Oeste, Norte, Nordeste, Sul e Sudeste), com ênfase na análise contrastiva entre o estado com a maior taxa de feminicídio (Mato Grosso do Sul) e o com a menor (Ceará). O corpus analisado é composto por 33 notícias sobre 11 casos distintos de feminicídio, totalizando 634 orações com Processos Materiais — das quais 375 são ativas e 259 passivas. A aplicação da Rede SOM, em conjunto com a correlação de Pearson, permitiu
identificar doze padrões linguísticos recorrentes (seis em orações ativas e seis em passivas) e nove correlações estatisticamente relevantes. Entre elas, destacam-se: (i) a correlação entre RSE e EIS em passivas, que evidencia a tendência de sujeitos expressos quando o processo ocupa posição temática; (ii) a associação entre número e posição das circunstâncias em ativas, com preferência por posicionamento inicial e final; e (iii) a relação entre o Papel Temático do Sujeito e o Tipo de Fazeres Materiais, com ênfase na responsabilização dos agentes. Os resultados indicam que a distribuição dos padrões linguísticos nas notícias de feminicídio reflete escolhas discursivas intencionais, que moldam a forma como esses casos são representados e interpretados socialmente. Essas escolhas gramaticais, como a inclusão da circunstância “na frente de vários funcionários da empresa” — exemplo do corpus desta pesquisa —, não apenas situam a ação, mas agregam valor interpretativo, intensificando a
percepção de brutalidade e exposição do crime. Assim, a organização linguística contribui para a construção de sentidos e valorações sociais sobre o feminicídio.
