ESTÁ MUDANDO OU TÁ MUDADO? A expressão do item estar no continuum fala/escrita

Nome: FREDERICO PITANGA PINHEIRO

Data de publicação: 09/05/2024

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
AMANDA HEIDERICH MARCHON Examinador Interno
CÉLIA REGINA DOS SANTOS LOPES Examinador Externo
EDAIR MARIA GÖRSKI Examinador Externo
LEILA MARIA TESCH Examinador Interno
MARIA DA CONCEIÇÃO AUXILIADORA DE PAIVA Examinador Externo

Páginas

Resumo: No cenário do português brasileiro, seja na modalidade falada ou na modalidade escrita da
língua, o item estar pode ser expresso sob a configuração de duas variantes: sem redução
morfofonológica (está, estou, estão, estava, estavam, estaria, estariam, estivesse, estivessem
etc.) e com redução morfofonológica (tá, tô, tão, tava, tavam, taria, tariam, tivesse, tivessem
etc.). À luz do Sociofuncionalismo (CEZARIO; MARQUES; ABRAÇADO, 2016; GÖRSKI;
TAVARES, 2013; TAVARES, 2013; TAVARES; GÖRSKI, 2015), por meio da interface
entre variação linguística e gramaticalização (GÖRSKI; TAVARES, 2017; NARO; BRAGA,
2000; POPLACK, 2011), a presente tese tem como objetivo basilar investigar a alternância
entre as formas plenas e reduzidas do item estar em um conjunto de 188 revistas de histórias
em quadrinhos da Turma da Mônica das décadas de 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010
(ZANELLATO, 2021) e comparar os resultados obtidos com o trabalho de Pinheiro (2019),
que investigou esse mesmo fenômeno a partir de 46 entrevistas sociolinguísticas realizadas
com informantes de Vitória/ES e que compõem parte do banco de dados do PortVix (TESCH;

YACOVENCO, 2022; YACOVENCO, 2002; YACOVENCO et al., 2012). As Análises pro-
cessadas pelo programa computacional GoldVarb X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH,

2005) sinalizam que, na comunidade de fala capixaba, a expressão do item estar é um caso de

mudança quase concluído, uma vez que as variantes reduzidas são utilizadas em uma propor-
ção semicategórica (96,9%). Já as histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, ao longo de

cinco decênios, apresentam uma distribuição mais equilibrada, com os usos plenos (61,2%) se
sobressaindo em relação aos usos reduzidos (38,8%). Contudo, vale destacar que a frequência
das formas reduzidas aumentou gradativamente com o passar do tempo. Nos anos 1970, havia

pouco mais do que 5% de redução, enquanto, nos anos 2010, as formas reduzidas já repre-
sentam mais da metade dos usos do estar (56,4%). O exame estatístico multivariado sinaliza

que, tanto na fala de Vitória/ES quanto na escrita das histórias em quadrinhos analisadas, as
formas reduzidas do item estar são favorecidas por suas funções mais gramaticalizadas, ao
passo que a função fonte e as funções menos gramaticalizadas inibem as reduções. Além

disso, as estruturas singulares e o presente do indicativo, contextos menos marcados em rela-
ção às estruturas plurais e aos demais tempos, modos e formas nominais verbais, igualmente

regulam de forma favorável as reduções. No que diz respeito às personagens das histórias em
quadrinhos da Turma da Mônica, percebe-se uma clara divisão entre os eixos rural e urbano,
com as figuras ligadas ao campo fortemente favorecendo as formas reduzidas, enquanto as

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figuras que apresentam traços urbanos se comportam de maneira intermediária ou inibem as
reduções. Entretanto, vale destacar que a oposição urbano vs. rural não se evidencia em usos
reais de fala cotidiana. Ao confrontar a fala de Vitória, capital do Espírito Santo e uma cidade
urbanizada, com a fala da zona rural de Santa Leopoldina, cidade do interior capixaba,
constata-se que a proporção de redução do item estar nessas duas comunidades é muito
aproximada: 96,9% e 99%, respectivamente. Isso leva à conclusão de que as formas reduzidas

do estar, na escrita das revistas de histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, são utiliza-
das como mais um recurso para constituir a fala estigmatizada do Chico Bento e das demais

personagens do núcleo rural. Por fim, no que concerne aos gêneros textuais entrevista socio-
linguística e história em quadrinhos, parecem ser as suas concepções discursivas orais o fator

que permite a manifestação reduzida do estar. Tal pensamento ganha mais força ao se
observar que os gêneros textuais e-mail e telejornal, ambos de elaboração escrita, inibem as
reduções do item estar (PINHEIRO, 2016). À vista desses resultados, ainda não é possível
responder com plena certeza a pergunta que dá título à presente tese: afinal, a expressão do
item estar está mudando ou (es)tá mudada? Embora haja na fala Vitória/ES e na fala de Santa
Leopoldina/ES um claro contexto de mudança quase completada e, na escrita das revistas de
história em quadrinhos da Turma da Mônica, as formas reduzidas do estar tenham ganhado

espaço considerável, mais contextos de uso das modalidades da língua precisam ser investiga-
dos para que se tenha um melhor panorama desse fenômeno variável.

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