Variação estilística e identidade: a concordância de número e o retroflexo
na fala goiana

Nome: ELAINE CRISTINA BORGES DE SOUZA

Data de publicação: 09/05/2023

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ALEXSANDRO RODRIGUES MEIRELES Examinador Interno
AMANDA HEIDERICH MARCHON Examinador Interno
LEILA MARIA TESCH Examinador Interno
MARIA MARTA PEREIRA SCHERRE Presidente
SHIRLEY ELIANY ROCHA MATTOS Examinador Externo

Páginas

Resumo: O objetivo desta tese é mostrar a existência de traços identitários do falar goiano, por
meio dos fenômenos da concordância nominal de número e do /R/ retroflexo, ou seja,
que há um conjunto de traços linguísticos que compõem a identidade linguística
goiana e que esses fenômenos participam da composição do chamado “goianês”.
Nosso trabalho está em consonância com os resultados da pesquisa de Shirley Mattos
(2013; 2017), que mostram que há um traço identitário, na fala goiana, na
concordância verbal com o pronome nós na oralidade urbana. No sentido de
contextualizar nossa pesquisa, apresentamos um breve percurso sobre a Linguística,
a Sociolinguística Variacionista e as propostas para análise da variação estilística: a
abordagem da Árvore de Decisão, de William Labov (2001a; 2001b; 2008 [1972]); a
abordagem Audience Design, de Allan Bell (1984; 2001), e a abordagem Speaker
Design conforme Penelope Eckert (2000; 2001) e Nikolas Coupland (2001). De modo
geral, a pesquisa é desenvolvida a partir da perspectiva da terceira onda na
Sociolinguística, que propõe práticas analíticas e metodológicas em continuidade com
as tendências anteriores, com foco em aspectos identitários e de agentividade. Ainda
procurando compreender os fenômenos propostos como traços identitários do
goianês, apresentamos o conceito de prestígio encoberto (covert prestige) (LABOV,
1982 [1966]; LABOV, 2008 [1972]; TRUDGILL, 1972, MILROY; MILROY, 1999 [1985]),
a fim de explicitar as razões pelas quais determinados grupos ou comunidades
escolhem usar uma forma não-padrão em vez da forma padrão, que, espera-se, seja
a forma prestigiada, nos termos do prestígio aberto ou explícito (overt prestige). Para
evidenciar que, em Goiás, há atribuição de um valor positivo ao que foge da norma
e/ou o que é estigmatizado, realizamos uma pesquisa histórica e uma pesquisa
amparada pela metodologia da etnografia digital (KOZINETS, 2014; POSTILL, 2017)
para indicar como a goianidade foi construída e agora é difundida e compreendida nas
redes sociais, bem como para ilustrar como o goiano compreende a própria fala. A
pesquisa conta, ainda, com uma análise da concordância nominal de número e do /R/
retroflexo a partir de uma amostra obtida por meio de gravações em situações naturais
de fala. Esses fenômenos são analisados a partir da fala de uma informante mulher,
de 28 anos, com 18 anos de escolarização, professora da rede municipal de ensino
de Goiânia e atriz de teatro que nasceu e sempre morou em Goiânia, na mesma casa.
Nosso objetivo foi analisar o comportamento linguístico de uma informante que, por
um lado, é tipicamente goiana e que, por outro, encaixa-se nas características sociais
de um falante que tende a usar as formas mais prestigiadas. Ao todo, analisamos 989
dados de concordância nominal e 1353 de variação do /R/ em coda silábica. Para
concordância nominal, controlamos a presença ou ausência de marca formal de
concordância nos elementos flexionáveis do sintagma nominal a partir das variáveis
linguísticas: posição relativa e linear dos elementos do sintagma nominal; paralelismo
linguístico (marcas precedentes) e saliência fônica na relação singular/plural. Na
análise do /R/ retroflexo, consideramos duas variáveis linguísticas: posição da coda
silábica e classe gramatical, dividida apenas entre verbo no infinitivo e não verbo. Para
as duas análises, foi, ainda, considerada uma variável estilística: contexto interacional.
A análise quantitativa dos dados foi realizada com o auxílio do programa GoldVarb X
(SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005). Os resultados mostraram a confluência
de fatores que atuam nos fenômenos analisados: em relação às variáveis linguísticas,
os dois fenômenos apresentaram regularidade com outras pesquisas realizadas sobre
o Português Brasileiro nas quais fatores atuam de modo mais forte para a realização
de marcas de concordância nominal e presença do /R/ retroflexo em coda silábica.
Quando nos voltamos à análise da variável estilística, constatamos a capacidade de
trânsito estilístico da informante, que altera o uso das marcas de concordância
nominal bem como o uso do /R/ retroflexo dependendo de qual persona assume.
Isolando os dados de contextos em que a interação se dá entre amigos próximos,
ainda é possível concluir que a informante tem um sentimento de solidariedade com
os demais membros do grupo e faz maior uso das formas que, no Português Brasileiro,
são estigmatizadas como típicas de uma fala caipira. Esse uso de formas não-padrão
com um sentido de solidariedade e identidade associado à capacidade da informante
de aumentar o uso das formas prestigiadas em outros contextos interacionais é um
elemento que nos leva identificar o goianês como um caso de prestígio encoberto.

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