Atitudes linguísticas de falantes da área rural e da área urbana do Espírito Santo
Nome: SAMINE DE ALMEIDA BENFICA
Data de publicação: 07/06/2024
Banca:
Nome | Papel |
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ANDERSON FERREIRA | Examinador Externo |
HEBE MACEDO DE CARVALHO | Examinador Externo |
LEILA MARIA TESCH | Examinador Interno |
LIVIA OUSHIRO | Examinador Externo |
MARIA MARTA PEREIRA SCHERRE | Presidente |
Páginas
Resumo: Esta pesquisa é uma investigação sobre as atitudes linguísticas de falantes de Vitória e de San-ta Leopoldina, municípios do Espírito Santo, para compreender algumas noções linguísticas que existem nesses locais e o juízo de valor sobre estruturas de concordância verbal em pri-meira e em terceira pessoa do plural sem a desinência plural (nós gosta, eles brinca). Apre-sentam-se análises das declarações de alguns falantes desses municípios sobre sua fala indivi-dual e sobre a fala de sua própria comunidade, e da percepção do uso das formas variantes de concordância verbal em primeira pessoa do plural, com e sem as desinências de plural. O ob-jetivo central desta investigação é analisar as diferenças entre as atitudes de membros de uma comunidade urbana, Vitória, e de uma comunidade rural, Santa Leopoldina, perante a língua e a consciência do uso variado de formas linguísticas em sua própria comunidade, comparando aos resultados das pesquisas de produção linguística já realizadas nas duas localidades, que descreveram os padrões de uso da concordância de número (Benfica, 2016; Foeger, 2014; Naro et al., 2017; Scherre; Naro; Yacovenco, 2018). Para tanto, a fundamentação se deu a partir dos pressupostos teóricos da Sociolinguística Variacionista (Weinreich; Labov; Herzog, 2006 [1968]), e, mais especificamente, das noções de atitude, de identidade, de consciência e de prestígio linguístico (Fernández, 1998; Labov, 2006 [1966]). Realizaram-se entrevistas presenciais com moradores das duas comunidades, com perguntas abertas como “O que você pensa sobre o seu próprio jeito de falar?”, “Você nota diferenças entre o jeito de falar de quem mora na cidade e de quem mora no campo?”, “O que você acha desse modo de falar: ‘Nós gosta de reunir a família’?”, entre outras. As análises foram predominantemente qualitativas e mostraram que, em Vitória, os falantes exibem uma atitude mais normativa e pouco tolerante às formas consideradas menos prestigiosas, em especial à variante em primeira pessoa sem marca plural, além de a associarem à fala de quem mora no interior ou tem menos escolariza-ção. Em Santa Leopoldina, os participantes revelaram um reconhecimento do uso dessas construções sem plural em sua comunidade, além de as considerarem naturais, sem validação negativa, o que sinaliza um contexto de prestígio encoberto (Labov (2006 [1966]). No que diz respeito à percepção do uso variável da primeira pessoa do plural, analisaram-se respostas de um questionário online realizado previamente às entrevistas, e constatou-se que entre a per-cepção do uso e as análises das pesquisas de produção há congruências, ao se observarem as direções das proporções das respostas dos participantes e dos resultados quantitativos, mas notam-se também incongruências, especialmente entre a produção, avaliação e percepção dos usos do verbo ir no presente e no pretérito, particularmente da expressão estereotípica “nós
vai”, que se pensa mais frequente do que as pesquisas de produção mostram. Conclui-se que os falantes das duas comunidades, Vitória e Santa Leopoldina, são conscientes sobre os usos variados da concordância verbal, e que os da capital expressam com ênfase rejeição a estrutu-ras sem plural, enquanto os do interior expressam, de modo geral, normalidade.